sábado, 5 de junho de 2010

Estação de trem.

Pela manhã, como de costume, ele ia até a estação de trem. Só ele entendia o por que sentia aquela vontade insaciável de matar aula pelo menos três vezes na semana e ir olhar os trens chegando e saindo, chegando e saindo... Também gostava de ver a agitação das pessoas, que pareciam estar sempre tão atrasadas, como se o mundo se resumisse apenas nos horários a serem cumpridos, senão, adeus vida boa! Ele, o menino, passava horas pensando e observando aquilo tudo. Pessoas de todas as cores, rítmos, vestimentas. O menino, bem, o menino estava lá com seu uniforme, seu caderno de 15 matérias praticamente novo e sua caneta bic na cor preta. No caderno, até que haviam algumas fórmulas dadas bem no início das aulas. Fora isso, seus desenhos. Se tinha uma coisa que ele não se cansava era de desenhar. Desenhar sobre tudo o que estava vendo ou revendo, ou querendo, talvez.
Muitas das vezes que se sentava no banco e via o movimento na estação, não percebia que todos os dias sem ele notar existia uma menina que o olhava. Ela, rica, só pegava trens depois de muita insistência ao seu pai, que morria de medo e daria tudo pra que ela fosse com o motorista para as aulas de piano que fazia todas as manhãs de segunda, quinta e sexta (dias exatos que ele estava ali). Ele nunca a viu, mas ela já o notava a algumas semanas.
Numa manhã de quinta, lá estava ele desenhando. Ela, assim como as outras pessoas, na maior correria para sua aula. Ao passar por ele, nem o percebe. Mas no milésimo quase imperceptível segundo, a folha arrancada do caderno dele cai no chão e flutua pelo ar em meio a multidão, caindo exatamente a centímetros curtos aos pés dela. Ela, mas do que imediatamente, pega o papel para saber do que se trata, sem nem sequer imaginar DE QUEM seja, na realidade.
De repente uma voz meio rouca e apaixonante diz:
- Ei menina isso é meu!
Ela o olha, suspende a cabeça e percebe que era ele, o menino. E naquele instante, ele se depara com algo muito além, nada parecido com os rostos que já estava acostumado a ver todas as manhãs. Havia algo naquele olhar, naquele cabelo que o paralizou. Ficaram segundos eternos se olhando. Até que devido ao caos do lugar, ela é empurrada para dentro do trem e ele intácto a observando.
Ao entrar no trem e olhar o papel, ela se vê nele. Pensa então que ele também já a observava de longe. Mas não. O fato de ele ter ficado em choque ao vê-la, é porque jamais imaginou que a garota que aparecia em seus sonhos, fosse uma das pessoas que estariam no lugar que ele tinha como refúgio da vida, e até mesmo de amenizar a dor de não poder encontrar a garota que ele tinha por perto a vida inteira, mesmo sem conhecer.

Desencontros necessários.

   Repensando sobre coisas passadas, percebo o quanto já fui feliz, mesmo com certas contradições. Nunca fui de me apaixonar de verdade, embora tivesse aquela mania incessante de ficar me "encantando" pelas pessoas. Bastava um jeitinho admirável para me fazer estremecer. Antes, me achava uma boba por ser assim, mas algo muito mais forte me fez, dia após dia, enxergar as coisas com mais naturalidade, portanto, parei de me sentir culpada por certos atos meus. Creio que esse "algo mais forte" fosse a maturidade chegando.
  Mesmo assim, bem que já cometi coisas irreparáveis, uma delas foi de ter namorado pela primeira vez, através da internet. Minhas primas, alguns amigos, até mesmo meus tios já sabiam quem ele era, menos eu. No início me sentia extremamente desamparada por causa disso, mas o tempo foi passando e eu fui percebendo que qualquer pessoa na face da Terra poderia se sentir assim, mas não eu. Afinal, passei a conhecer ele de verdade, mesmo que pra isso os toques físicos tivessem de ser adiados. Dias e noites, e nós lá, digitando e digitando como se o mundo inteiro se resumisse numa coisa chamada: computador.
  Ouvi críticas quanto a isso, como: "fala sério, só tu mesmo pra namorar a distância, presta atenção na tua vida aqui, ele mora em outra cidade!" Fora quando não passavam horas rindo de mim. Isso, muitas vezes me fazia enfraquecer. Chorava sozinha, mas nunca deixava de contar a ele tudo sobre os meus dias. E acabava contando dessas brincadeirinhas, contava pra ele num tom de estar querendo desistir... Mas lá vinha ele novamente, mostrar pra mim que sempre existiria um outro lado, lado esse que ele dizia ser nosso. O nosso mundo, o nosso namoro, o nosso amor. Amor esse que ele alegava do jeito mais lindo, que era diferente de todos os outros. Não por ser a distância, e sim porque apesar de ser a distância, era o mais verdadeiro (quem sabe até o único) no qual já havíamos passado.
  Hoje, percebo a importância de cada acontecimento. Percebo quanto tempo já perdi, mas que na realidade só me causou bem. Embora tenha sido tão pouco, tive uma plena felicidade. Viver algo platônico não se resume a todas as pessoas. Se tem algo pelo qual me orgulho, é de ter sido capaz de passar por isso tão bravamente. Isso que definitivamente, não é e jamais será pra qualquer um.