domingo, 25 de abril de 2010

linda Martha Medeiros.

"Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo. Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as outras: ninguém desconfia do meu anti socialismo interno.
Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa, impulsiva e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos.
Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um chope. Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: nessas horas não sei onde vão parar minhas idéias viris. Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease. Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.
Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também."


E mais uma dose de Martha, obrigada!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Só, juro que é SÓ pra registrar.

   Quero ter que não acreditar e não esperar. Sabe, não dá! Cansei das mesmas histórias e ao mesmo tempo da grande falta delas. Busquei depois de tanto tempo outros sentidos, lugares, quem sabe até pessoas. Esperei ontem, ao contrário de hoje e provavelmente de amanhã. O tempo? Ah, o tempo! Quem me dera se ele curasse. Mas tadinho... Ele já faz tanto por mim, há muito ele vem amenizando minha dor. Se bem que ainda continuo um pouco como antes... Dormindo, estudando, mas me preocupando como antes? Quem sabe, acho difícil hein. Não vou radicalizar, porque coisas também mudaram desde lá: novas amizades, novas coisas legais e finalmente, uma mudança brusca de perspectiva pessoal. Eu ainda sou aquela menina de 1 ano atrás, mas jamais com as mesmas vontades. Aprendi desde aquele último “abismo”, que ele seria o último. O último “abismo” no qual fui até o final, onde não chorei, quer dizer... Chorei sim, chorei muito! Mas, se é que me entendem, sem lágrimas. Pra ser mais clara: a seco. Sofri, gritei e lamentei tudo o que eu tinha direito. E a opinião dos outros? Joguei fora! Que se dane, pois eu fui até onde eu quis, ou melhor, ate onde deu. E isso foi exclusivamente problema meu. Realmente já estava na hora de eu me guiar por mim mesma, e ver sozinha a conseqüência de tudo o que eu quero pra mim.
   E quem diria que aqueles momentos tão hostis seriam responsáveis por uma nova Jéssica, com novos pensamentos, novos ares e pessoas. Hoje em dia eu quero mais, não mais por ambição e sim por JUVENTUDE, por prazer, por plenitude! Que agora venha tudo de bom de uma vez só, e com uma dose a mais de Verdade. Eu teimo em querer sempre colocá-la no meio, mas desculpem, sem isso eu nunca vou ter ou SER.
   E os dias? Ah esses dias. Só eles sabem o valor e o poder que possuem. São os únicos capazes de dar a resposta a que todos temem: deixar claro quem é quem e o que cada um representa para alguém (se é que me entendem). Aprendi com esses dias que eu jamais posso e nunca vou exigir nada de ninguém. Que o segredo esta em arriscar sim. A incerteza é valiosa. Se não fosse por ela o mundo seria tão sem graça, se já não é, não é mesmo? Mas tudo bem, a tal da incerteza ameniza esse tédio universal. Ela é a portadora, sem ela não existiria o risco. Ele não tem sentido, mas nos faz ir atrás de alguma razão que justifique nossas dúvidas.
   E foi exatamente o risco que me deu forças para ir em frente e descobrir o que havia por trás do que eu passei. É, mais uma vez como tantas outras nada saiu muito bem. Mas a consciência é limpa, se não gostou de mim, isso já não tem nada a ver comigo! Não chego a culpar a incerteza por isso, muito menos a mim mesma. Ora, vejam só, eu me culpar! Afinal, eu tive o papel mais bonito nisso tudo, digamos até o principal: eu amei...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Ele.

Se antes era impossível, até que agora mudou pra pouco provável. O que era aparentemente inofensivo, agora já buscou novas proporções, quem sabe até, uma chance. A chance. Aquela que ela nunca mais terá em sua vida. Ou será que existem milhares iguais a ele espalhados por ai? Sim, ela a muito já havia constatado o óbvio de que todos são iguais, e também já havia se conformado de que ainda iria sofrer um pouquinho (pouquinho foi educação) para que um dia as coisas se acertassem. O que ela ainda não percebeu é que nada, absolutamente precisa ser acertado. O segredo do negócio está no medo, no desejo escondido e na vontade insasiável para ter a coragem de dizer: "oi, essa chuva não passa mesmo, hein?!" Nunca uma frase foi tão bem ensaiada e detalhadamente formulada, mesmo sem certeza alguma de que ela teria uma chance de dizer. Se bem que, chover já está mais do que selado. O caso é, ele estar lá para ouvir isso, e poder concordar ao menos com um sorrisinho. Milésimos de segundos guardados na lembrança dela. Seria fantástico!
O dia finalmente chegou, ela sai aos poucos, empurrando as pessoas insignicantes (são os figurantes, ela pensava...), então, olhou pra ele. Sim, ele estava ali, no mesmo lugarzinho esperando seu pai ou mãe chegar. Ela pensa nesse instante que seu plano não falharia! Tenta se aproximar discretamente, mas antes mesmo de soltar a tal frase, percebeu que havia faltado um detalhe, cadê a chuva? É, seu plano foi por água a baixo, mas não literalmente (pequena piadinha interna) para tentar rir e não sentir-se mal com mais um plano jogado fora, sem realização. Para piorar, os pais dele chegaram. E lá se foi, mais um dia, de mais horas esperando, reavaliando, vendo, revendo as fotos dele e imaginando, imaginando... Mais um plano infalível ela anotava no papel. O que ela não sabia, o que nem passava pela sua cabeça, era o real significado do que ela fazia. Não havia tocado-se ainda, que quanto mais tentasse fazer com que as coisas acontecessem de alguma maneira, mais ainda seria em vão. Nada pode ser planejado, nem que seja pelo motivo mais lindo ou urgente! Mas, lá estava ela, formulando mais algum plano infalível para o dia seguinte...

Sem sombra.

"Acorrentado em todos os lugares que ele não deseja estar. Junto com todos os pesos de todas as palavras que ele tenta dizer. Enquanto eles pegam a sua alma eles roubam seu orgulho"

(Noel Gallagher)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Esqueceram...

Esqueceram. Esqueceram de dizer obrigada, esqueceram de cantar no banho, esqueceram de dizer pro irmão caçula que ele nem é tão irritante assim, e que assistir O homem aranha com ele é bem melhor do que dormir. Esqueceram de dizer que todo dia é dia das mães e que assim como ontem, é dia de chuva, então por que o medo de se molhar? Esqueceram de desligar a torneira enquanto escovavam os dentes, deve ter sido por isso que deu aquela enchente mais uma vez. Esqueceram de avisar que roupa bonita não é o que te deixa bonita, e sim tudo o que só alguns são capazes de enxergar em ti. Esqueceram de desativar o modo foda-se, deve ser por isso mesmo que quase mais ninguém se respeita mais. Esqueceram de dizer "eu te amo" na hora no café, deve ter sido por isso que eu fui assaltada ao sair de casa. Esqueceram a chave do carro do lado de fora e por isso fiquei trancada, não pude mais andar o resto do dia. Esqueceram de dormir mais cedo ontem, deve ter sido por isso que de manhã estavam todos de mau-humor. Devem ter esquecido que o mundo vai acabar, deve ser exatamente por isso que as coisas perderam a verdadeira importância...