segunda-feira, 26 de julho de 2010

Eu te amo, nos dias de chuva

  Nem tudo ia bem para a mais doce das moças, embora nem tivesse consciência de que não era vista assim aos olhos das pessoas, que acreditavam que sua vida era perfeita. Na verdade, não sabiam de nada.
  Se tinha uma coisa que ela adorava fazer no inverno, era escrever e ficar olhando pela janela esperando surgir da neblina que tudo embaçava, aquele rapaz, que a meses se foi com a promessa de que iria voltar, apesar dos perigos que enfrentaria na guerra que a cada dia ia se agravando mais.
Bel, era o nome da doce moça, que estava sempre ali se embalando na cadeira e olhando cada minucioso movimento nas árvores... Sua mãe bem que tentava intervir em tanta espera, e sempre a dizia para colocar o cachecol e ver os dias passando de uma outra maneira. Essa sugestão só conseguia deixar Bel mais atordoada, afinal, só saia de casa para "ver os dias passando" quando estava na companhia dele. Ele que sempre dizia com aquela voz meio rouca: "meu bem, só não esqueça do cachecol"
  Depois de tanta espera, Bel finalmente recebe uma carta dele, que contava de sua saudade e aflição, de seus medos e sua vontade em vê-la. Bel chorou demasiadamente neste dia, mas algo bem no finalzinho da carta a alegrou em especial, ele escreveu: "ó meu bem, só não se esqueça do cachecol"
Os dias foram passando, formaram meses, que formaram anos e mais anos. A moça até que existia, mas somente na alma. Bel havia envelhecido, juntamente com a carta, que ficava guardada dentro de cada livro que ela escrevia sentadinha em sua cadeira de balanço ao lado da janela.
  Depois daquela vez, mais nenhuma carta chegou, e aos poucos, por insistência da própria vida, ela foi deixando de esperar o regresso dele. Apesar disso, sua imagem ela nunca conseguiu esquecer, e nem achava que isso fosse necessário. Já fora de tamanha crueldade não tê-lo mais em sua vida...
  Bel morre. Os empregados não sabiam explicar a causa, portanto acreditaram ser devido a velhice. E após alguns meses resolveram guardar as coisas de Bel e jogar outras fora, era preciso. Pensaram em guardar os livros que ela tanto escrevia e que ficavam empilhados sem utilidade. Mas a única coisa que encontraram escritas nos lotes de folhas era: "Como eu te amo nos dias de chuva..."

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